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18 Junho, 2023 Carlota Jardim, Micaela Morgado, Sara Anjo em entrevista ao Dentes de Leão Dentes de Leão (DL) Que relevância teve o papel relacional e afetivo do Dentes de Leão para o vosso processo artístico? Carlota Jardim (CJ) Para mim, trabalhar com muita gente é sempre um desafio. Nas artes plásticas, de onde venho, o círculo de pessoas normalmente envolvido nos processos de criação é muito restrito, se não se cinge — no fazer da “obra” — apenas a mim própria. Apesar de ter tido experiências correlacionais e até participativas anteriormente, a experiência no Dentes de Leão abriu-me uma série de horizontes artísticos e relacionais, dos quais destaco precisamente a relação afectiva, a entreajuda, o debate crítico e a criação de comunidades efémeras – um “termo” que trabalhámos constantemente. Ora, todas estas coisas apenas são possíveis de ser edificadas — e confrontadas — num campo comum e a própria criação desse campo comum constitui o principal trabalho de criação. Isto é-me especialmente importante, porque me interessa ligar o artístico e o político dessa forma – na maneira como os processos se interligam para a criação de um “objecto” ou, no caso da Linha de Terra, também “momento”, que deles surge — mais do que a criação de um objecto que se indica como político a priori. A criação de objectos e a criação do(s) grupo(s) foi mais do que uma coincidência, foi fruto de uma série de forças e sortes que moldaram o processo artístico e, consequentemente, os seus “resultados”. Desde o princípio deste projecto, considerei que a melhor ferramenta de trabalho colectivo e artístico que podia partilhar era o discurso, o debate. Propus isto, porque considerei a pintura, a minha área principal, como demasiado solitária e difícil de manobrar participativamente com resultados que fossem significativos para todos os envolvidos nesse processo. Durante o(s) processo(s) do Dentes de Leão, conversámos muito, mas essa conversa acabou por estar num foro mais processual e, daí, também mais privado, o que também é bom! O momento da Linha de Terra em que nos sentámos na toalha foi inicialmente proposto como um espaço de debate e reflexão colectiva, mas foi para mim excepcional compreender como esse momento não tinha de ser linguístico: podia ser mais sensorial, mais sensível e, por isso, penso agora — e ainda bem! —, até mais plástico e próximo do pensamento pictórico! Micaela Morgado (MM) Como nunca tinha estado envolvida num projeto deste género, o seu impacto foi enorme. No início, criei alguns constrangimentos, bloqueios e resistências, mas foram gradualmente diluídos por esse papel relacional e afetivo. Por outro lado, esse mesmo papel tornou o próprio projeto bastante pesado e mais complexo do que estava à espera. Sinto que houve alturas em que o papel de cada um (porque infelizmente existiam hierarquias) se desfigurava, muita coisa se misturava e muitos limites eram quebrados, trazendo uma dificuldade acrescida e esgotamento psicológico que retirava o foco do objetivo principal. Sei que o papel relacional teve relevância, mas ainda não percebi que tipo de relevância teve para o meu processo artístico. A nível pessoal e interpessoal, no entanto, penso que posso afirmar que o Dentes de Leão teve uma grande relevância para todos. Fora do projeto, como ainda é muito recente, parece-me que, de imediato, teve o efeito contrário: sinto uma enorme necessidade de voltar a trabalhar sozinha e para mim, respeitar os meus ritmos e não forçar a “participação” de ninguém, inclusive a minha. (continua no documento em anexo) ver mais
18 Junho, 2023 Filipa Branco Jaques em conversa com Raquel Ribeiro dos Santos Foi um verdadeiro gosto entrevistar a Filipa. Começámos por falar de blocos: de uma geometria de projeto muito fechada e de uma ideia de bolha. De bolhas de segurança (de parte a parte) e de bolhas que eventualmente rebentam (porque, afinal, eram de todos). Depois, falámos da chegada do mistério: que, neste projeto, veio sob a forma de jovens. Normalmente, os jovens não trazem mistério. Aqui, eles foram essa figura misteriosa. E há, juntamente com o mistério, um certo espanto. Podíamos ter dito que eles rebentaram a bolha, abrindo — juntamente com o coletivo dos artistas — a perceção de que o projeto ia sendo, ou já era, de todos. Depois de uma ideia de incompreensão, passou-se a uma zona de conforto e a um espaço de segurança que era proposto por uma comunicação diferente, uma comunicação com código próprio: o som. Falámos de como estarmos juntos foi um desafio que se aceitou. E, nesse processo de aceitação de que se é parte integrante do projeto, deu-se um deslumbramento. Falámos de porosidade e de como estas bolhas se contaminam e, na verdade, podiam ser uma só. Mas falámos também de que o grau de envolvimento depende de cada um. Falámos de sermos timoneiros — mesmo quando não temos noção disso — e da importância de se ir liderando o processo e acelerando. Pensámos o coletivo como desafio, os amigos como portas de entrada e os territórios como redes de contactos. Abordámos a aprendizagem como substrato que se infiltra. Aprendemos a aprender com os outros, lidando com os seus materiais e as suas técnicas. Terminámos a falar de aceitação: de aceitar a insegurança e a solidão e de aprender que é na firmeza dessa insegurança partilhada, nesse processo de solidão partilhado, que se começa um processo pessoal num coletivo.  Raquel Ribeiro dos Santos (continua no documento em anexo) ver mais
18 Junho, 2023 Dentes de Leitão é uma plataforma de Artes Individuais que seleciona e promove artistas individualistas com valores transcendentalistas — consagrados ou em início de carreira — e que se centra no pensamento e discussão sobre o papel da Arte na Sociedade de Rebanho. Inicialmente criado para Artistas da Bairrada, este projeto, que agora se efetiva na forma de um Festival de Variedades, abre-se além-fronteiras e convoca artistas nacionais e internacionais dedicados aos temas contemporâneos e em voga no seio das Artes Individuais. A partir de encontros formais entre a comunidade, concílios e conferências e os maiores teóricos da Arte e da Cultura, os artistas trabalharão individualmente a reapresentação e a readaptação de objetos artísticos com o intuito de os tornar lucrativos e abrangentes. A ruralidade é o mote criativo para a simplificação do pensamento crítico em exercícios estéticos que dialogam com o dilema: “Deve a Arte Contemporânea sair das cidades grandes?”  Sinopse do projeto utilizada na divulgação durante o Ciclo de Artes Participativas (Évora e Sardoal, outubro de 2022). ver mais
17 Junho, 2023 A experiência como mediadora no Dentes de Leão veio provar-me a importância de ter decidido, há uns anos, vir e permanecer no interior do país, onde, por vezes, não há tantas oportunidades de aderir a projetos artísticos, por não existir (ainda) muita oferta cultural diversificada. Em contrapartida, vou encontrando por aqui uma força nos jovens que me impele a continuar a fazer projetos participativos, facilitando ferramentas que potenciam ao máximo as capacidades de cada um nestas áreas e que se vão revelando imensas e tão pertinentes no campo comunitário. É essa (e continua a fazer-se sentir) a grande força deste projeto que, através de “teias” por vezes “invisíveis aos olhos”, vai tecendo futuros e caminhos que se vão revelando na grande evolução dos jovens envolvidos. Este magnífico projeto veio dar-me a oportunidade de contribuir de forma mais estruturada para a construção de algo que envolvesse de facto os jovens, num trabalho colaborativo constante com pessoas que me acrescentaram imenso a nível pessoal, social e intelectual, aprofundando, assim, esta vertente profissional de mediação cultural e artística, tão necessária nestes territórios, por vezes tão desligados e desvalorizados da/na sua própria identidade. ver mais
17 Junho, 2023 Enquanto artista no Dentes de Leão, centrei-me em criar experiências tácteis que envolvessem o público e esbatessem as fronteiras entre artista e participante. Procurei criar espaços onde os indivíduos pudessem explorar e expressar as suas próprias perspetivas em vez de respeitarem uma narrativa ou mensagem estipulada. Tentei que o meu trabalho fosse colaborativo por natureza, envolvendo um leque de vozes e pontos de vista. Acredito que a arte deveria ser acessível a todos e que a participação é um aspecto fundamental dessa acessibilidade. Ao capacitar indivíduos para se envolverem no processo artístico e no seu resultado contínuo – e para eles contribuírem –, espero criar experiências relevantes e transformadoras que incentivem a criatividade, a ligação e a compreensão. ver mais
16 Junho, 2023 Eu fui um produtor, um produtor muito logístico e administrativo. Um pouco mais do que gosto, mas fui um produtor do projeto muito motivado para que houvesse condições para as práticas de produção artística e criação participativa. No âmbito de um projeto burocraticamente muito exigente e de enorme complexidade de equipas e quantidade de estruturas e pessoas envolvidas, fui naturalmente concentrando a minha energia nas prioridades básicas de produção mas também operacionalizando os processos de mediação entre as diversas esferas envolvidas. Consequentemente, distanciei-me, involuntariamente e mais do que perspetivava, dos processos de criação e de participação. Não obstante, embrenhei-me completamente no projeto durante mais de um ano e acompanhei com regozijo as sinergias criadas, as fluências e influências estimuladas e, sobretudo, a crescente produção participativa. ver mais

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