Filipa Branco Jaques em conversa com Raquel Ribeiro dos Santos
Foi um verdadeiro gosto entrevistar a Filipa. Começámos por falar de blocos: de uma geometria de projeto muito fechada e de uma ideia de bolha. De bolhas de segurança (de parte a parte) e de bolhas que eventualmente rebentam (porque, afinal, eram de todos). Depois, falámos da chegada do mistério: que, neste projeto, veio sob a forma de jovens. Normalmente, os jovens não trazem mistério. Aqui, eles foram essa figura misteriosa. E há, juntamente com o mistério, um certo espanto. Podíamos ter dito que eles rebentaram a bolha, abrindo — juntamente com o coletivo dos artistas — a perceção de que o projeto ia sendo, ou já era, de todos. Depois de uma ideia de incompreensão, passou-se a uma zona de conforto e a um espaço de segurança que era proposto por uma comunicação diferente, uma comunicação com código próprio: o som. Falámos de como estarmos juntos foi um desafio que se aceitou. E, nesse processo de aceitação de que se é parte integrante do projeto, deu-se um deslumbramento. Falámos de porosidade e de como estas bolhas se contaminam e, na verdade, podiam ser uma só. Mas falámos também de que o grau de envolvimento depende de cada um. Falámos de sermos timoneiros — mesmo quando não temos noção disso — e da importância de se ir liderando o processo e acelerando. Pensámos o coletivo como desafio, os amigos como portas de entrada e os territórios como redes de contactos. Abordámos a aprendizagem como substrato que se infiltra. Aprendemos a aprender com os outros, lidando com os seus materiais e as suas técnicas. Terminámos a falar de aceitação: de aceitar a insegurança e a solidão e de aprender que é na firmeza dessa insegurança partilhada, nesse processo de solidão partilhado, que se começa um processo pessoal num coletivo.
Raquel Ribeiro dos Santos
(continua no documento em anexo)